segunda-feira, 21 de setembro de 2009

CRÔNICA: Chuva no Sertão

Quando chove no sertão; mesmo que seja apenas uma neblina; pensa-se logo que o inverno vai começar. Os pingos de chuva deixam marcas na terra seca. O cheiro de terra molhada penetra nas casas. O barulho dos pingos no telhado, embala a esperança do sertanejo. Quando a chuva vem em forma de temporal; os relâmpagos cortam a imensidão do céu; clareando a noite escura; enquanto o trovão estronda e reboa na serra. A chuva traz a água que tanto alegra o agricultor. A água lava a alma e a roupa suja. A água enche os córregos; os açudes e rios. A água no córrego corre de barreira a barreira; levando todo basculho que há no seu leito. O pó da estrada, transforma-se em lama. A caatinga flora e a serra muda de cor. Os raios atingem árvores; casas e o gado nos currais. São os coriscos que partem árvores ao meio. Pequenos açudes, não suportam o volume das águas e se rompem.
As pessoas ficam em casa; deitadas ouvindo a água correr nos córregos e rios. O claro dos relâmpagos passa por baixo da porta e pela fresta do telhado. A noite fica fria e insetos voadores infestam a cidade. Mariposas a voejar em volta das lâmpadas dos postes; atraindo sapos de todos os recônditos. Quando a chuva cessa um pouco; o silêncio é total. Ouve-se a pequenos intervalos; apenas os pingos a cair da biqueira. O cheiro de ar puro, de terra molhada; de capim seco molhado; de roça molhada após a queimada. O coaxar dos sapos que surgem não se sabe de onde; enche a noite de sons tipicamente sertanejos. Poucas pessoas conseguem dormir; de tão eufóricos que estão. Alguns aproveitam para consertarem uma goteira no telhado; enquanto outros preferem verificar se está tudo bem com o gado no curral; ou certificar-se de que dispõem de sementes para plantar.
Ao amanhecer o dia; a serra está encoberta pelo nevoeiro. Os sertanejos dizem que a serra está cachimbando. Após uma noite de chuva; o dia amanhece com uma claridade bonita e límpida. As pessoas que conseguiram dormir; acordam cedo e saem às ruas para conversarem sobre o tempo; as chuvas; os planos futuros; para verem o açude cheio ou o córrego com suas águas barrentas; a carregar garranchos e basculhos. O dia permanece encoberto e o clima muda. Alguns agricultores vão para o roçado plantar feijão e milho. Há uma alegria geral. No curral o gado pisoteia o esterco enlameado e muge encostado a porteira. Se a chuva ocorre durante o dia; o banho de chuva é indispensável. O banho na biqueira, congela as dores do corpo e alimenta a esperança. Para aliviar o frio; a cachaça aparece em cena. Tomar umas pingas, enquanto a chuva cai; aumenta o ânimo do sofrido agricultor sertanejo.

Autor: Rubens Campos.

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