segunda-feira, 28 de setembro de 2009

CRÔNICA: Os Tempos Mudaram

No sertão os tempos mudaram. Com a globalização, as informações chegam mais cedo. Com os programas sociais do governo federal; os sertanejos se acomodaram e se modernizaram; em outras palavras, ficaram preguiçosos. A figura do matuto desapareceu e deu lugar a um novo sertanejo; a um sertanejo esclarecido e ciente dos seus direitos de cidadão brasileiro. Além da mudança no aspecto físico-social; mudanças no aspecto físico-mental. Houve mudanças nas vestimentas e hábitos alimentares. Os sertanejos enveredaram pelos costumes da cidade grande (visto pela televisão).

A televisão é a grande vilã de tudo isso. É pela televisão que o sertanejo vislumbra o mundo, com seus hábitos e costumes; e isso não é bom. Porque junto com as coisas boas, vem as coisas ruins; tais como a violência e a modernidade; que afasta os sertanejos dos seus princípios básicos de educação, cultura e de solidariedade. A cultura de um povo deve ser preservada e respeitada; para que passe de geração para geração. A tradição cultural é que movimenta o comércio das cidades sertanejas do Brasil.

Hoje, o que vemos nos sertões; são sertanejos aposentados, e seus familiares vivendo a custa do mísero salário mínimo recebido (a paga). Vemos sertanejos preguiçosos vivendo a custa dos programas sociais do governo federal. Hoje, sertanejo não planta mais para seu sustento e de sua família; simplesmente compra os gêneros de primeira necessidade em um mercadinho existente próximo a sua casa.

O silo que era uma peça presente em quase todas as casas; simplesmente desapareceu e deu lugar as famosas garrafas “pet”; que armazena todos os tipos de sementes. São popularmente conhecidas entre os sertanejos como “cocão”.

As casas de farinha e os engenhos de cana de açúcar; são peças tombadas pelo patrimônio histórico; ou simplesmente foram demolidas; ou estão em completo estado de abandono. Nenhum sertanejo planta mais mandioca para transformar em farinha de mandioca, tapioca, beiju; como também não planta cana de açúcar para transformar em rapadura, alfenim e mel de engenho.

Os “loiceiros”, que fabricavam potes, quartinhas, alguidares e panelas; faleceram e seus descendentes não continuaram na profissão dos seus ascendentes.

Os “frandeleiros”, que fabricavam latas, copos, funis, bacias e silos; também morreram e as industrias de plásticos engoliram os poucos que ainda insistiram em permanecer no ramo. O plástico substituiu o barro, o zinco, o cobre e o latão (colheres e garfos, eram feitos de latão); enfim, o plástico tornou-se o material mais usado no mundo moderno.

O rádio a pilha, deu lugar a televisão. A geladeira substituiu o pote. A corda onde ficavam penduradas as carnes, toucinho, peixe, tripa (todos salgados); passaram a ser guardados na geladeira. Os tamboretes de couro de boi, foram substituídos por sofás e poltronas. O camiseiro foi substituído pelo guarda roupa e a cristaleira pelo armário. O fogão a lenha deu lugar ao fogão a gás. O cavalo foi substituído pela motocicleta .

As pessoas conversam menos. A boca-de-noite na casa de um vizinho; é uma página virada no livro do tempo. Os tempos mudaram. Os antigos com seus hábitos e costumes, morreram e esse impacto reflete-se nos altos índices de violência; nos maus hábitos e costumes dos tempos modernos. Os tempos mudaram e as pessoas também. O que nos resta é recordar os bons tempos que não voltam mais.

Rubens Campos

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