quarta-feira, 28 de outubro de 2009

MULHER RENDEIRA:


Na cidade de Carnaúba dos Dantas-RN, como em diversas outras partes do interior do Nordeste, a rotina não é diferente. Em quase todas as casas encontram–se mulheres, de todas as idades, reunidas cantando e tecendo por longas horas a fio. A renda foi trazida da Europa por congregações religiosas e suas técnicas vêm sendo repassadas de geração em geração há mais de um século, sustentando a tradição e vida de milhares de famílias, que vivem deste ramo artesanal. Os dois tipos produzidos em terras brasileiras são a Renda de Bilro e a Renda de Agulha ou Renascença.

A Renda de Bilro é mais rara e poucas são as rendeiras que ainda trabalham com este tipo de técnica. Na cidade de Carnaúba dos Dantas-RN, Josefa Amália Dantas (foto), mais conhecida como "Mêna", é uma das poucas rendeiras que ainda trabalham com esse tipo de técnica. No alto de uma almofada, em formato de capacete, são fixados os fios que recebem em suas pontas os bilros – pequenas peças de madeira que facilitam o trançar. A rendeira fixa o desenho a ser tecido na almofada e os locais a serem contornados pelos fios são modelados com alfinetes. Feito isso, ela vai entrelaçando os bilros até todo o desenho aparecer em forma de renda. Este processo está praticamente extinto em diversas cidades nordestinas, que atualmente produzem apenas a Renda de Agulha.

A Renascença é criada usando–se uma linha apropriada, fabricada de algodão puro, uma fita fina chamada lacê, uma almofada cilíndrica, papel manteiga – conhecido pelas rendeiras como papel de risco – e papel grosso para suporte – geralmente utiliza–se papel de saco de cimento ou de ração animal. Elas desenham o formato desejado no papel de risco, colam ao papel suporte, alinhavam o lacê, fixam todo o conjunto na almofada e começam a tecelagem. Quando o trabalho é concluído, a renda é lavada e recebe uma camada de goma para adquirir rigidez.

Uma diferença básica entre os processos é que a renda de bilro era confeccionada em diversas cores e a renda de agulha é predominantemente branca. Antigamente era possível encontrar trabalhos em cor preta e rosada e hoje algumas peças são feitas em cor bege, mas é incomum. O principal fator da opção pela cor branca é que a durabilidade da renda nem sempre condizia com a das tinturas utilizadas nas linhas. Com o tempo, a cor ia desgastado-se e as peças eram descartadas antes de apresentar qualquer defeito de confecção e isso implicava em prejuízo tanto para quem comprava quanto para quem vendia, quando o estoque passava muito tempo sem comprador.

Por ser mais difundida, a renascença vem sendo aperfeiçoada pelas rendeiras. A criatividade vai desde a elaboração dos desenhos até o batismo dos pontos com nomes bastante peculiares. Se no crochê encontramos o ponto-de-cruz, aqui encontramos xerém, malha de cabecinha, traça, vassourinha, nervura, dois-amarrados, torre, ponto sol, ponto lua, folhagem, entre outros. Todos eles foram dados a partir de associações com figuras e formas do cotidiano interiorano, integrando mais elementos à cultura popular.

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