Tão remoto quanto a origem do homem, os rituais sagrados pagãos dão conta de uma tradição mitológica.
Em Rafael Godeiro-RN. O ritual se reveste de mistérios. Símbolos sagrados, rezas, rosários, sal, água benta, cordão e nomes de santos envolvem o solo sagrado da casa das rezadeiras. Nos remete às divindades protetoras de origem africana, indígena e européia. Imagens de santos espalhadas pelas paredes mostram o sincretismo religioso. Maria Cristalina (foto), foi uma das grandes rezadeiras da Várzea da Caatinga.
Mãos ágeis sustentam ramos verdes e pequenos. Traçam no ar cruzes sobre a cabeça do doente. Tecem um fio invisível, poderoso, unindo as dores dos homens, mazelas sem fim à magia do benzimento. Ramos murcham, absorvem o espírito da doença. As orações invocam a santíssima trindade, não permitem cruzar pés e mãos para não invalidar a oração.
O elo mítico poderoso funde-se a voz sussurrada da rezadeira. A cadeia simbólica e imagética presente no verbo invade o ambiente. O poder da cura configura-se. As sessões sagradas das benzedeiras ao raiar do sol ou ao crepúsculo, oferecem um quê de lealdade ao deus Tupã, para aplacar, quem sabe, as forças invisíveis da natureza aos moldes de Ossaim, o orixá que detém o poder purgativo das plantas.
Tão remoto quanto a origem do homem, os rituais sagrados pagãos, objetos de estudo, teses e pesquisas ao longo da era racionalista dão conta de uma tradição mitológica praticada nas tribos primitivas.
A despeito de serem as deusas fadas-mães guardiãs dos elementos femininos das manifestações do mundo sensível, da essência espiritual, retirando o humano dos limites factuais, a figura das rezadeiras funciona como um código conectivo que agrega toda a riqueza espiritual presente na vida de uma gente despida de bens materiais, mas que expressam em suas diversas manifestações religiosas procissões de símbolos sagrados para conter a fúria implacável dos males terrenos.
Teatralização do pensamento
De sorte que a palavra como um fio condutor impulsiona a produção histórica cultural e, como afirma Roland Barthes, a teatralização do pensamento.O processo de adaptação do homem na Terra ocorreu de forma lenta e sofrida. Cada minuto vivenciado pela humanidade simbolizava a sua vitória perante o meio magmatizado e camuflado de perigos. Na batalha pela sobrevivência, o homem separou e diferenciou tudo aquilo que fosse importante à sua própria vida em meio aos complexos traços do mundo. Em busca de um auxílio, o ser humano encontrou na esfera religiosa apoio ao que lhe desorientava e afligia. Cada impressão e desejo, cada perigo que o ameaçava, era outorgado um valor sacro. Tudo era vivido num plano duplo em que se desenrolava a existência humana e, ao mesmo tempo, a vida trans-humana, que é a do Cosmo, a dos Deuses.
No caso de doenças, o homem buscava proteção com amuletos, orações e consultas a feiticeiros. Esse misto de crendices e superstições foram transmitidos de geração a geração. Hoje, em plena sociedade contemporânea, caracterizada pelos grandes avanços, convivemos com alguns desses aspectos.
No Nordeste brasileiro, sobretudo, no Ceará, são bastante comuns. Em meio à placidez luminosa do sertão, adornada pela fúria da Caatinga, há mulheres portadoras da chamada sabedoria popular, cujos reflexos se fazem presentes nas rugas dos rostos e na calma fulgente. Elas entoam rezas ancestrais que, para os sertanejos, curaram os malefícios físicos e espirituais.
Conhecida pela designação de “Rezadeiras”, elas realizam seu ritual a todo o momento e para quem precisar, inclusive, para pessoas de alto poder aquisitivo. Como que munidas de uma força numinosa, promovem ato de solenidade de mais alto valor, no qual, numa simbiose, a natureza terrestre se associa à celestial. Logo, perpassam em preces o alento necessário que sanará o doente. Com galho de peão-roxo ou de vassourinha, expurgam as enfermidades do corpo humano.
Segundo o escritor Eduardo Campos, a procura dessa prática pelos sertanejos e pessoas de classe baixa de Fortaleza acontece, em geral, pela negligência e a falta de recursos da saúde pública. Diante da dor e das dificuldades para receber tratamento, só resta recorrer à ajuda divina. Apesar da problemática em questão, as orações e as “meizinhas” das rezadeiras obtêm resultados satisfatórios junto aos seus seguidores. O trabalho delas é tão importante que até os profissionais mais letrados reconhecem seu ofício, utilizando-o nos postos de saúde. O poder de cura delas vai além do que é tido como racional. Simples frases proferidas com fé e esperança, atenuam os sofrimentos, aliviam as almas e reconstroem os ânimos.
Em Rafael Godeiro-RN. O ritual se reveste de mistérios. Símbolos sagrados, rezas, rosários, sal, água benta, cordão e nomes de santos envolvem o solo sagrado da casa das rezadeiras. Nos remete às divindades protetoras de origem africana, indígena e européia. Imagens de santos espalhadas pelas paredes mostram o sincretismo religioso. Maria Cristalina (foto), foi uma das grandes rezadeiras da Várzea da Caatinga.
Mãos ágeis sustentam ramos verdes e pequenos. Traçam no ar cruzes sobre a cabeça do doente. Tecem um fio invisível, poderoso, unindo as dores dos homens, mazelas sem fim à magia do benzimento. Ramos murcham, absorvem o espírito da doença. As orações invocam a santíssima trindade, não permitem cruzar pés e mãos para não invalidar a oração.
O elo mítico poderoso funde-se a voz sussurrada da rezadeira. A cadeia simbólica e imagética presente no verbo invade o ambiente. O poder da cura configura-se. As sessões sagradas das benzedeiras ao raiar do sol ou ao crepúsculo, oferecem um quê de lealdade ao deus Tupã, para aplacar, quem sabe, as forças invisíveis da natureza aos moldes de Ossaim, o orixá que detém o poder purgativo das plantas.
Tão remoto quanto a origem do homem, os rituais sagrados pagãos, objetos de estudo, teses e pesquisas ao longo da era racionalista dão conta de uma tradição mitológica praticada nas tribos primitivas.
A despeito de serem as deusas fadas-mães guardiãs dos elementos femininos das manifestações do mundo sensível, da essência espiritual, retirando o humano dos limites factuais, a figura das rezadeiras funciona como um código conectivo que agrega toda a riqueza espiritual presente na vida de uma gente despida de bens materiais, mas que expressam em suas diversas manifestações religiosas procissões de símbolos sagrados para conter a fúria implacável dos males terrenos.
Teatralização do pensamento
De sorte que a palavra como um fio condutor impulsiona a produção histórica cultural e, como afirma Roland Barthes, a teatralização do pensamento.O processo de adaptação do homem na Terra ocorreu de forma lenta e sofrida. Cada minuto vivenciado pela humanidade simbolizava a sua vitória perante o meio magmatizado e camuflado de perigos. Na batalha pela sobrevivência, o homem separou e diferenciou tudo aquilo que fosse importante à sua própria vida em meio aos complexos traços do mundo. Em busca de um auxílio, o ser humano encontrou na esfera religiosa apoio ao que lhe desorientava e afligia. Cada impressão e desejo, cada perigo que o ameaçava, era outorgado um valor sacro. Tudo era vivido num plano duplo em que se desenrolava a existência humana e, ao mesmo tempo, a vida trans-humana, que é a do Cosmo, a dos Deuses.
No caso de doenças, o homem buscava proteção com amuletos, orações e consultas a feiticeiros. Esse misto de crendices e superstições foram transmitidos de geração a geração. Hoje, em plena sociedade contemporânea, caracterizada pelos grandes avanços, convivemos com alguns desses aspectos.
No Nordeste brasileiro, sobretudo, no Ceará, são bastante comuns. Em meio à placidez luminosa do sertão, adornada pela fúria da Caatinga, há mulheres portadoras da chamada sabedoria popular, cujos reflexos se fazem presentes nas rugas dos rostos e na calma fulgente. Elas entoam rezas ancestrais que, para os sertanejos, curaram os malefícios físicos e espirituais.
Conhecida pela designação de “Rezadeiras”, elas realizam seu ritual a todo o momento e para quem precisar, inclusive, para pessoas de alto poder aquisitivo. Como que munidas de uma força numinosa, promovem ato de solenidade de mais alto valor, no qual, numa simbiose, a natureza terrestre se associa à celestial. Logo, perpassam em preces o alento necessário que sanará o doente. Com galho de peão-roxo ou de vassourinha, expurgam as enfermidades do corpo humano.
Segundo o escritor Eduardo Campos, a procura dessa prática pelos sertanejos e pessoas de classe baixa de Fortaleza acontece, em geral, pela negligência e a falta de recursos da saúde pública. Diante da dor e das dificuldades para receber tratamento, só resta recorrer à ajuda divina. Apesar da problemática em questão, as orações e as “meizinhas” das rezadeiras obtêm resultados satisfatórios junto aos seus seguidores. O trabalho delas é tão importante que até os profissionais mais letrados reconhecem seu ofício, utilizando-o nos postos de saúde. O poder de cura delas vai além do que é tido como racional. Simples frases proferidas com fé e esperança, atenuam os sofrimentos, aliviam as almas e reconstroem os ânimos.
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