Antigamente, ouvir música começava pela capa do disco. A capa do disco tinha um apelo visual, que te levava a comprar. O odor de livro novo, que emanava da capa também te motivava a comprar. O contato com a capa te deixava com a imaginação solta, bailando no ar. Ouvir um disco, com a capa nas mãos, acompanhando cada música, vendo o disco a girar na vitrola; a agulha a tocar os sulcos, numa dança sincronizada.
O disco de vinil te motivava a ouvir música, te hipnotizava desde a capa. Pequenos chiados se misturavam a música de forma acalentadora; de forma tão hipnótica, que muitas vezes adormecia-se nesse relax. Um disco sem capa era um disco mutilado; era um disco sem referencias; era um disco sem DNA. O disco de vinil tinha uma grande vantagem em relação ao disco digital; ele não era pirateado, não havia como fazer outro disco de vinil em casa, como se faz com o disco digital.
O disco digital veio para substituir o disco de vinil; mas deixou muito a desejar. Para começar, não tem uma capa digna de te deixar motivado a comprar. São capas, ou melhor, nem capas tem; apenas uma ilustração de péssima qualidade. O disco de vinil, quando se arranhava em determinado ponto; e a agulha emperrava; bastava uma leve batidinha no braço da vitrola e o mesmo saltava o ponto arranhado e prosseguia com a música. O disco digital quando foi lançado prometia que era a prova de arranhões; e não se viu isso. Quando um disco digital se arranha é pior de que os antigos discos de vinil; pois não tem batidinha, que faça ele avançar somente aquele ponto arranhado. E pior ainda que os discos de vinil, é que pequenas manchas também fazem eles não tocarem.
Portanto, eu prefiro os antigos discos de vinil, com seus chiados, com seus arranhões, com poucas músicas, do que discos digitais de péssimas qualidades e muitas músicas.
Hoje, ao ver velhos discos de vinil, a recordação, de tempos passados é tão presente quanto ao ver velhas fotografias manchadas pelo tempo. Tudo por causa da capa dos velhos e inesquecíveis discos de vinil.
Rubens Campos
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